Durante a pandemia, deve-se seguir o regulamento do condomínio e as orientações das autoridades de como agir antes, durante e depois das atividades
Nesse período há muitas formas para manter-se ativo dentro de casa. Entretanto, quem mora em prédio muitas vezes considera a prática ao ar livre, sendo essencial seguir as recomendações do condomínio e das autoridades locais. Para entender como e quando usar esses espaços, o EU Atleta conversou com médico consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e com professor conselheiro do Conselho Federal de Educação Física (Confef).
O que considerar para praticar exercícios em áreas comuns:
-Regulamento do condomínio. É preciso saber se o uso desses espaços está liberado;
-Recomendações das autoridades públicas e de saúde locais, bem como da legislação vigente, para esses tempos de pandemia na sua cidade e estado;
-Custo-benefício de frequentar esses espaços. Por exemplo, se apresenta alguma condição que é fator de risco para agravamento da Covid-19, como doenças cardiovasculares, diabetes, asma, tabagismo, obesidade e idade acima dos 60 anos, é preciso pensar bem antes de tomar essa decisão;
-Tipo de exercício. Atividades como ginástica localizada, entre outras possíveis de serem realizadas em casa, devem ser praticadas na segurança do seu lar. Em áreas como playground e terraço do prédio, quando possível frequentar esses espaços, vale realizar exercícios como caminhada, corrida e pedaladas.
Conforme explica o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, da SBI, o primeiro passo para saber se é possível ou não utilizar playgrounds e terraços para a prática de atividades físicas é informar-se sobre o que determina o regulamento do condomínio para esses tempos de pandemia, que precisa estar em sintonia com o que recomendam as autoridades públicas locais. O morador deve saber se em seu prédio está permitido ou não frequentar esses ambientes. Ainda assim, é imprescindível estar a par também do que recomendam as autoridades públicas e de saúde locais baseadas na situação epidemiológica da doença. Professor doutor e infectologista da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Barbosa comenta que em cidades com grande transmissão da Covid-19, altos números de casos e óbitos, deve-se sair de casa apenas para realizar atividades essenciais, o que não inclui exercícios físicos no play ou terraço.
– Em uma situação epidemiologicamente importante, como das cidades de São Paulo, Manaus, Belém e Rio de Janeiro (neste mês de junho), realmente não dá para imaginar que se use essas áreas comuns, ainda que se tome os cuidados de uso de máscara e higienização de onde porventura se coloca a mão. Por mais que você adote essas medidas de prevenção, elas não são 100% efetivas. Elas vão diminuir muito o risco, mas não vão eliminá-lo. Então, não cabe esse tipo de flexibilização, visto que a situação epidemiológica não permite atividades não essenciais. Agora, em cidades onde os condomínios visualizem que a situação epidemiológica não está ruim como, por exemplo, no extremo oeste do estado de São Paulo, tomando esses devidos cuidados pode haver a possibilidade de flexibilizar. Mas, é lógico, cada situação tem que ser bem individualizada, respeitando não só a regulamentação de cada condomínio, mas também a legislação local. Tudo tem que ser bem articulado – analisa o infectologista.
O médico consultor da SBI lembra que, nas áreas comuns dos prédios, o vírus pode ser transmitido de duas formas. Uma delas é a transmissão respiratória, quando as pessoas ficam muito próximas e falam, espirram e tossem. A outra é por meio das gotículas que são depositadas nas superfícies em que as pessoas colocam as mãos, que depois são levadas às mucosas do olho, boca ou nariz. Portanto, caso haja autorização para fazer uso de áreas comuns do prédio como playgrounds e terraços, o indivíduo deve ponderar se vale utilizar esses espaços adotando todas as medidas possíveis para a prevenção de infecção pelo SARS-Cov-2. Além disso, é importante saber se há casos no prédio.
– Tem que pesar a relação custo-benefício, se você tem comorbidades e, principalmente, a situação epidemiológica local – enfatiza Barbosa, evidenciando ainda que, durante a pandemia de Covid-19 é essencial que as pessoas tenham bom senso, uma vez que já sabem como podem se prevenir, incluindo durante a prática de atividades físicas.
Profissional de educação física, o conselheiro federal do Confef Marcelo Ferreira Miranda também reforça a importância de considerar o perfil epidemiológico da doença na cidade e o risco de colapso do sistema de saúde, além do regulamento do condomínio sobre uso de áreas comuns. Essas medidas são primordiais. Contudo, outros critérios devem ser levados em conta. Miranda, que é especialista em treinamento desportivo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais e mestre em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recomenda, por exemplo, usar esses espaços para atividades aeróbias, como corridas, caminhadas e pedaladas. Exercícios de ginástica localizada, por exemplo, devem ser realizados em casa, já que exigem contato do corpo com o solo e apoio em paredes ou outras superfícies, o que aumentaria a possibilidade de contágio.
– É muito difícil fazer esses exercícios (de ginástica) sem se deitar no chão ou se apoiar. Quando possível, as pessoas devem sair de casa para a prática do exercício aeróbio, que é muito importante para o sistema imunológico, e podem ser oportunidade para pegar um sol, até pensando na síntese de vitamina D – orienta o profissional de Educação Física.
Presidente da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul, Miranda acrescenta que é preciso manter-se ativo fisicamente durante o distanciamento social, que não pode ser uma justificativa para o sedentarismo. As atividades físicas são essenciais para a prevenção e controle de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e são grandes aliadas também da saúde mental, que pode ser comprometida durante esse momento de reclusão. Por isso, quando há a possibilidade realizar exercícios nas áreas comuns do prédio com segurança, beneficia-se o corpo e a mente.
– Ficar recluso dentro de casa pode ser muito ruim para a saúde mental. Há um agravamento dos quadros de depressão e síndrome do pânico em função desse isolamento. A depressão, por exemplo, é considerada um dos principais males atuais e essa fase que vivemos, além da tensão pelo risco de contaminação, mas também pela necessidade de isolamento, agravarão os índices da doença. Com muita responsabilidade e sem aglomeração, a pessoa precisa fazer atividade física, inclusive sob o sol. É preciso ter cuidado com essas doenças psicossomáticas que esse período de isolamento certamente provocará – analisa o profissional de Educação Física, lembrando ser importante que as pessoas adaptem-se a essa nova realidade imposta pela circulação do novo coronavírus, uma vez que, por um bom tempo, nada será como antes.
Dicas para se exercitar no prédio
Quando permitido frequentar playground ou terraço para praticar exercícios, é preciso saber como se portar nesses ambientes. Por isso, a seguir, o EU Atleta lista algumas recomendações preparadas com o apoio do médico infectologista e do profissional de Educação Física. Essas dicas ajudarão a reduzir as chances de contato com o novo coronavírus e agentes infecciosos em geral.
Antes
-Primeiramente, certifique-se de que o seu prédio libera a utilização de playgrounds, terraços e outras área comuns, como jardins e quadras de esporte, para prática de atividades físicas durante a pandemia. Considere ainda o que as autoridades recomendam para a sua cidade, considerando a situação epidemiológica da Covid-19 e a capacidade do sistema de saúde local;
-Informe-se para saber se, no seu condomínio, há algum sistema de rodízio para organizar a utilização de plays e terraços. Caso no seu edifício não haja essa orientação mas o uso desses espaços seja permitido, procure praticar os seus exercícios em horários em que não haverá muita chance de encontrar com outros moradores, como de manhã bem cedinho;
-Se seu condomínio conta com academia, vale um alerta especial, já que trata-se de uma área comum. É essencial ponderar bastante sobre o uso desses ambientes, ainda que esteja permitido e haja sistema de rodízio para os moradores. Prefira realizar os exercícios em casa, dependendo da situação da doença na sua cidade e do seu quadro de saúde e das pessoas que vivem com você. Afinal, nesse ambiente haverá mais risco de contato com o vírus, considerando que são compartilhados equipamentos e que o contato com superfícies que possam estar contaminadas é muito alto. Além disso, como o vírus é transmitido por gotículas, se outras pessoas estiverem na academia no mesmo momento que você, o espaço deve estar o mais ventilado e aberto possível. Por isso, tenha muito bom senso.
-Optando por usar a academia, mesmo que sozinho, reforce os cuidados com higienização das mãos e dos materiais antes e depois de utilizá-los, seja usando álcool em gel ou solução com 50 ml de água sanitária para um litro de água;
-Não se esqueça: se for usar áreas como playground e terraço, faça atividades que não conseguiria realizar no espaço do seu lar, como caminhadas, corridas e até pedaladas. Exercícios que demandem deitar no chão ou apoiar-se devem ser realizados em casa;
-Lembre de que caminhadas são atividades seguras, benéficas e sem restrição até para quem está sedentário. Mas se você está em um nível mais avançado, consulte um profissional de Educação Física para planejar um treino adequado para o seu condicionamento físico. Recorra a esse educador ainda caso tenha alguma patologia que requeira atenção e uma individualização do exercício. Durante a pandemia, muitos profissionais de Educação Física prestam atendimento on-line, inclusive;
-Jamais utilize esses espaços comuns do prédio caso apresente sinais gripais, como tosse, espirro e febre. Fique em casa para evitar infectar outras pessoas.
Durante
-Ainda que no seu condomínio haja um sistema de rodízio para frequentar áreas comuns ou que você opte por realizar as atividades em horários em que esses espaços tendem a estar vazios, não se esqueça da máscara. Esse acessório deve ser utilizado quando se tem contato com pessoas que não vivem no seu ambiente domiciliar, principalmente a uma distância menor do que dois metros. Trata-se de uma medida de segurança para você e o próximo, já que não dá para ter total certeza de que não acabará encontrando com outro morador, incluindo no deslocamento para o play.
-Não se preocupe, pois os modelos cirúrgicos ou de pano não diminuem a oxigenação. No entanto, demandam um esforço maior para inspirar, o que pode ser desconfortável para algumas pessoas, se o exercício for intenso ou até que já se esteja adaptado ao seu uso. Nesse caso, é preciso diminuir a intensidade da atividade, em vez de retirá-la. Por outro lado, como a pessoa precisa se esforçar mais para puxar o ar, as máscaras podem ser uma sobrecarga positiva para o sistema respiratório, estimulando a capacidade pulmonar. Não é à toa que são usadas em treinamentos desportivos de atletas para desenvolver uma força de inspiração maior, como para simular situação de altitude;
-Em garagens, verifique também a circulação de ar, para não inspirar muito monóxido de carbono;
-Use álcool em gel 70% para higienizar as mãos. Ainda assim, evite tocar as mucosas de olho, nariz e boca. Mas, atenção, se as mãos estiverem com sujeira, é preciso lavá-las com água e sabão;
-Conte sempre com uma garrafa de água e toalhinha individual durante a prática da sua atividade física.
Depois
-Ao retornar ao seu apartamento, retire os calçados, evitando andar com eles pela casa, e coloque a roupa para lavar. Em seguida, lave as mãos com água e sabão por 20 segundos, para não correr o risco de colocá-las nos olhos, nariz ou na boca e acabar se contaminando. Na sequência, tome um banho.
Vale lembrar que o SARS-Cov-2 pode ficar por algumas horas e até dias determinadas superfícies, mas não dura para sempre fora do corpo humano. Então, se você retirar roupas e calçados, deixando-os em um local onde não haverá contato, lavar as mãos adequadamente e tomar um banho, não haverá problemas de se contaminar com o novo coronavírus ou outros agentes infecciosos que possam estar nesses acessórios.